Caminho Central Português para Santiago de Compostela
De todo o mundo afluem a este centro religioso milhares de pessoas, munidos duma auto-superação que só a fé pode proporcionar. Esta jornada é como a vida, onde se traçam objetivos, sabe-se onde se começa, não se sabe onde acaba. Mais importante que chegar é a viagem interior, as pessoas com quem falamos e os locais onde ficamos.
Nós resolvemos por imperativos temporais fazer o caminho de bicicleta, obtivemos a Credencial no Posto de Turismo de Oliveira de Azeméis e partimos junto da Sé do Porto. Este documento deverá ser carimbado em vários pontos do percurso para certificar a viagem, dar acesso aos albergues e no final obter “La Compostela”, documento em Latim que atesta a conclusão do caminho.
Pelo trilho fomos dando e recebendo votos, como daqueles Italianos com uma criança portuguesa, Barbara Poccellim, Amorea Deangeli e Tiago dos Santos, que tinham partido de Ponte de Lima ou da Ilaria Pilar e do Damiano Potes que partiram de Vila do Conde.
A vieira como símbolo da peregrinação
O símbolo do caminho é uma vieira, com a nossa visão olhamos para ela e vimos todos os relevos da concha afluir como caminhos à Catedral de São Tiago. Alguém um dia pintou uma seta amarela para ajudar na orientação facilitando a peregrinação, movimento que nunca mais parou e se reforça continuamente.
Em Portugal ouvimos muitas línguas, mas foi apenas em Ponteverda - Espanha que encontramos com grande satisfação os primeiros peregrinos Portugueses, que nos abordaram perguntando na nossa amada língua de onde éramos. Estes jovens Marta Resende, residente em Oliveira de Azeméis, João e Tiago Oliveira de São João da Madeira, partiram das suas terras e também pareceram ficar felizes com o encontro.
As conversas que entabulamos com estas pessoas permitiram descobrir que existem sempre pontes onde as experiências se encontram, reforçam a nossa condição humana e nos permitem chegar ao outro lado, atravessar fronteiras como a de Valença do Minho para Tui ou em Pontevedra a bonita ponte romana de Sampaio.
O “camino” serpenteia vales, terras, matos serrados, no Minho mares de milho, entra pelas aldeias profundas da Ibéria que dizia Estrabão ter a forma duma pele de boi ou um anónimo uma jangada. As pessoas estão habituadas a este mar de gente e quando vêem alguém em dificuldades, depressa as colocam no trilho certo, assim fosse a vida e este mundo seria melhor.
Apareceram mais portugueses, o agrupamento de escuteiros 332 de Vila Cova – Barcelos, conduzidos pelo candidato a dirigente Rafael Santos, que tinha partido com quinze elementos da sua terra e alegravam com a sua juventude o velho caminho.
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O caminho através da jangada de pedra de José Saramago
Facto curioso desta viagem é não termos sentido a terra a tremer, nem nos seguirem estorninhos, nem forças para pesada pedra, nem poderes para negrilho pau. Umberto Eco dizia que o mundo está cheio de bons livros que ninguém lê, José Saramago imaginou um dia na sua “Jangada de Pedra”, que a Ibéria zarpava da Europa e navegava pelo Atlântico, transportando este povo que a historia já juntou e separou incomensuráveis vezes e contando a vida de cinco pessoas e um cão, dotados com mágicos poderes.
Xai Oscar, pintor galego autodidata
Numa encruzilhada em Orbenlle – Porriño, fomos encontrar empoleirado num andaime Xai Oscar, pintor autodidata, que estava a restaurar as pinturas morais de sua autoria ali existentes, inspiradas em São Tiago. Como amantes das artes paramos a indagar. Atenciosamente ofereceu-nos um livro sobre o seu trabalho onde vimos que partilhamos o amor pelas serras e pelas ondas.
Nas franjas do caminho encontra-se de tudo um pouco, em Cacheiro – Pontevedra, encontramos a Ana vestida com um antigo traje de peregrina e que explora, com o marido José Luís, “A Parada do Cãmino”. O seu sorriso e simpatia não deixam ninguém indiferente e todos ali querem aportar.
O mar de gente que calcorrilham estes trilhos, vão assinalando a sua passagem pelos muros, cruzes, monumentos, em forma de vieiras, pedrinhas, fotos ou simples mensagens escritas em todas as línguas, que dão força aqueles que sentem a fraqueza chegar. Mas nem só de fé vive o homem, é preciso retemperar forças e não faltam locais para para degustar petiscos, como no "Coberto", onde o "Polvo à Feira", faz desviar momentaneamente o peregrino do seu objetivo.
A volta da maré trouxe-nos alguém do nosso distrito, a Rute Domingues e o José Lopes, perto da Ria de Pontevera, que nos fez lembrar a nossa ria de Aveiro. Estes jovens começaram a sua jornada em Ponte de Lima e esperemos que a tenham concluído com sucesso e aproveitamos para desejar boa sorte nos estudos.
A chegada emotiva a Santiago de Compostela
Os dias foram passando, os marcos esmorecendo, o cansaço arrebatando. À vista de Santiago as emoções afluíram num sentimento transcendente que não se pode partilhar, apenas dar conta. Na praça em frente à catedral, por baixo da presença protetora do São Santiago, rezamos, agradecemos por ter chegado, pelas nossas faltas e pecados, nesta por vezes “ingrata” condição humana, que nos faz errar tanto, mas que nos permite ser perdoados e perdoar.
Na Oficina do Peregrino obtemos “La compostela”, redigida em Latim, certificando em como completamos a nossa peregrinação.
Não podíamos terminar sem uma palavra para a Terra, para os graves problemas que a afetam, agora é Amazónia, amanhã serão outros, aqui no nosso Portugal as ameaças do lítio não fazem augurar nada de bom, para isso temos que apelar a todos as religiões, credos, Deuses e crenças, para que a condição e o planeta perdurem para as futuras gerações.
Para todos vocês, para os amigos que nos acompanharam na jornada o nosso obrigado e votos de Bom Caminho, “Buen camino”, “Bonne voie”, “Good way”, “Guter Weg” e “Bonum Semita”.
MAY WE MEET AGAIN
Em relação a nós, fazemos nossa esta mensagem que alguém deixou para trás, nos caminhos de Santiago, “MAY WE MEET AGAIN”.
Galeria de fotos do Caminho Central Português para Santiago de Compostela
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Barcelos
Ponte de Lima
Rubiães
Valença do Minho
Tui
Pontevedra
Chegada a Santiago de Compostela